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Sentada na popa do navio, observo, ofegante, o quadro que o mundo me dá, ali, visto do lado de quem se vai. E ainda só pressinto,
não sinto,
as cores, as formas, os cheiros. Bebo tudo sôfrega.
É triste e melancólica a imagem que em mim carimbo, ali, em cheiro profundo de rio e adeus.
Acima da colina e do castelo, engolido em molhos verdejantes de árvores, desenham-se, aleatórias e desordenadas, nuvens em explosões de branco e azul e cinzento.
E a sensação primeira, no balançar da maré, é tão somente de enjoo, aquele que faz prever a chuva que cai sem cerimónia, em soluço do céu.
Expiro-te Lisboa.
Ao fundo, espalhadas no chão, as casas asseguram-me, então, uma espécie de paz, num contraste absurdo com o caos escuro de rio e nuvem. Despontam brancas e amarelas e grandes e pequenas, todas quentes, todas diferentes, num amontoado morno e feliz de lares.
E respiro, então,
Inspiro-te Lisboa,
cidade quente, branca e brilhante.
Sei que me vês, ao fundo, sei que me acenas em despedida de maresia. E eu bebo-te toda, cidade que me viste menina, nesta obra em aguarela de alma.
E cravo, cá dentro, todas tuas curvas,
Lisboa menina e moça, Lisboa cidade maravilhosa.